sexta-feira, 22 de abril de 2011

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

 A filosofia do período contemporâneo é caracterizada por uma grande diversidade de linhas e visões, que se construíram com uma grande velocidade, a qual é influenciada pelos novos tempos, pela sociedade fabril, pela era da comunicação, pela influencia da “ciência”.

O Mundo Contemporâneo

A maioria dos autores delimita o início do período contemporâneo na Revolução Francesa, no final do século XVIII. Na verdade a segunda metade do século XVIII nos reserva vários acontecimentos que juntos no trazem uma série de novidades, um conjunto de mudanças que farão mudar o modo de vida e de pensar na Europa e consecutivamente no mundo todo.
A revolta popular ocorrida na França somente é a expressão política (prática) de uma série de idéias que já vinham sobrevoando a Europa a mais de um século. Os iluministas pregavam a liberdade e a igualdade, bem como uma ética governamental muito mais avançada do que a que era expressada pelos reis da Europa. Muitos foram os homens da idade Moderna que em sua redescoberta do passado greco-romano, proclamavam o ideal republicano e distribuíam sonhos democráticos.
Mas a Revolução Francesa não foi a primeira expressão destas idéias. Dizer isto é esquecermos do levante das treze colônias da América do Norte, que foram as primeiras a declarar sua independência, e muito mais que isto: o primeiro país a ter uma constituição republicana. Com os Estados Unidos consolida-se pela primeira vez o ideal da liberdade, igualdade e fraternidade. Claro que no contesto mundial da época dava preponderância de valor e significado aos acontecimentos da grande metrópole européia.
Ainda no século XVIII surgem as máquinas à vapor. Rapidamente aquilo que teve inicio na Inglaterra, na fabricação de tecidos, estendia-se por toda a Europa e já chegava a muitas colônias, não limitando-se só ao setor têxtil. A máquina dará origem a um novo modo de produção: a fábrica.
E a fábrica se encarregou de mudar o modo de vida do mundo inteiro, em vários aspectos: 1. A fábrica irá produzir com muito mais velocidade e usando de bem menos mão-de-obra (tempo de trabalho) aplicado, isso irá gerar uma popularização de um número cada vez maior de bens de consumo que terão preços cada vez mais baixos; 2. A fábrica irá precisar de muita mão-de-obra no meio urbano o que ira ocasionar um movimento crescente de êxodo rural e o surgimento de grande contigentes de pessoas que ocuparão de forma irregular o espaço urbano; 3. A fábrica exigirá de seus operários, principalmente nos primeiros tempos, uma grande carga horária de trabalho, tanto para homens, mulheres e crianças que precisarão regrar seus corpos a um trabalho que considera-se a extensão da ação da máquina. Na fábrica as pessoas traçarão seu tempo de trabalho por dinheiro, dando preponderância ao trabalho assalariado; 4. A fábrica cria um novo modo de vida familiar, agora regrado pelo tempo e pelo patrão, não mais pelo clima e pela vontade, como era no meio rural. Na cidade, na sociedade fabril a família separa-se durante o dia inteiro, apenas encontrando-se para alimentar-se e dormir. Estes são apenas alguns entre muitos aspectos.
O século XIX é marcado pelos muitos movimentos de independência das colônias americanas que se emancipam, pelo menos no âmbito político, das suas ex-metrópolis. E este também será o século da expansão européia sobre o continente asiático e o africano (neo-colonialismo), motivada por um pseudo interesse de levar o progresso a estes, mas que na verdade trazia consigo a necessidade européia por ampliação do mercado consumidor dos produtos industriais, bem como a busca por matéria-prima e por mão-de-obra barata para a produção.
Ainda no século XIX, surge na Europa uma série de grupos e pensadores que irão opor-se às péssimas condições de trabalho e aos baixos salários oferecidos por muitos burgueses. No bojo deste movimento sindical surgem também as idéias comunistas e anarquistas, junto com uma série de variações de pensamentos socialistas. Estes movimentos irão mudar o mundo do trabalho na Europa ocidental em todo este século e motivar movimentos em vários lugares do mundo em todo século XX.
O século XX já se foi, mas nos deixou impressões diversas. Ao que parece, este foi um século longo de mais por sua grande quantidade de acontecimentos relevantes, e talvez curto de mais, por não resolver em si mesmo os paradigmas que trouxe consigo. Este século inicia com uma Europa em conflito pela disputa pelas áreas de influência e domínio industrial na África e na Ásia. Este interesse pelo domínio e influência mundial, que tinha fundo comercial, levou as nações européias bem no início deste século a uma guerra lenta, sangrenta e de grande destruição. Esta guerra fortaleceu os EUA que forneceu equipamentos e alimentos, bem como emprestou dinheiro à vários países. Em meio à esta guerra, sem que ninguém desse muita importância, acontecia na Rússia uma revolta popular, que por fim instituiu o primeiro governo de cunho comunista da história. E esta guerra não encerrou em si seus grandes conflitos, pelo contrário, proporcionou o clima de ódio e de desconfiança nas instituições democráticas que deram origem ao Fascismo e ao Nazismo, que baseavam-se em teorias dos novos filósofos para afirmar sua superioridade. Uma segunda guerra, esta muito mais violenta, mundial e tecnológica teve que dar fim à questão, trazendo para o primeiro plano do poder mundial duas nações emergentes e com cartilhas totalmente opostas: os Estados Unidos da América e a União da Repúblicas Socialistas Soviéticas – formada pela Rússia e vário países que esta tirou das mãos de Hitler durante a guerra, entre elas a metade oriental da Alemanha.
Quase todo o restante do da história política e social deste século foi marcada pela dualidade entre o sistema capitalista e o socialista. Ambos endureceram e o mundo fechou-se todo em ditaduras, a democracia era algo raro. Matava-se em nome das teorias políticas. China, Cuba, Coréia, Vietnã e dezenas de outros países experimentaram movimentos revolucionários de cunho comunista que tiveram êxito, tomando o poder. O mundo vivia duas utopias distintas de um mundo maravilhoso e perfeito. Mas ambas contavam com algo em comum para alcançar tal paraíso – e não era com Deus: com o trabalho e a ciência desenvolvida pelo homem. Havia a idéia que poderia-s resolver, com o tempo, todos os problemas com o uso da ciência, pois este foi também o século das novas tecnologias, principalmente na área da comunicação e do transporte, que facilitaram uma maior integração e agilidade no movimentos das idéias no mundo todo.
Mas assim como toda a mentira, mesmo que bem contada, não há idéia rígida que resista ao teste do tempo. Os países capitalistas tiveram que se adaptar e criaram uma forma toda especial de valorização social do trabalhador e possibilidade de ascensão e seguridade social. E as nações socialistas passaram por crises de identidade, depois de várias trocas de líderes, foram abrindo-se à economia de mercado. E o mundo foi se abrindo para a democracia. O século XX termina com o fortalecimento do debate em torno de outras e novas questões existenciais da humanidade, que já vive mais estas grandes utopias de massa e agora confunde-se entre o consumismo e uma série de filosofias que aparecem cada vez mais no contexto de uma visão relativista da vida.

Os grandes pensadores Contemporâneos


Hegel e a Dialética:

Hegel (1770-1831) é um dos filósofos que tem origem nas idéias do Romantismo alemão. Em Hegel podemos encontrar os princípio do materialismo moderno, que depois irá tomar caminhos e direções diversas em Comte e Marx, dentre vários outros.
Segundo Jostein Gaarden:
“Todos os filósofos anteriores a Hegel tentaram estabelecer critérios eternos para o que o homem pode saber sobre o mundo. Isso vale para Descartes e Spinoza, Hume e Kant. Cada um deles se interessou por aquilo que constitui a base de todo o conhecimento humano. Só que todos eles falavam sobre premissas atemporais para o conhecimento do homem sobre o mundo. (...) Hegel achava impossível encontrar tais pressupostos atemporais. Ele achava que as bases do conhecimento humano mudavam de geração em geração. Por conseqüência, também não existiam “verdades eternas” para ele. Não existe uma razão desvinculada de um tempo. O único ponto fixo a que a filosofia pode se ater é a própria história.”[1]

Para Hegel apenas aquilo que é explicável através da razão é viável. Para ele a toda a história da humanidade é construída por luta de idéias, assim, ele nos compreende como produtos do pensamento e acontecimentos de nossos dias, que seriam produto de uma infinita luta de idéias opostas. A este movimento de eterna contradição ele dá o nome de “dialética”. Ele tenta até formular este movimento nos moldes da matemática: TESE + ANTITESE = SÍNTESE, sendo que assim que surge uma “síntese”, esta torna-se “tese”, dando início a um novo e infinito ciclo histórico de idéias e oposições.
É importante percebermos que com esta teoria Hegel está tentando afirmar que toda a história humana na verdade é fruto de um fenômeno cíclico e eterno, que poderia ser lido de forma matemática. É a tentativa de provar que a história da humanidade está na verdade propensa a um fenômeno mecânico, que não há novidade em nada disso, tudo pode ser “cientificamente” compreendido.

Comte e o Positivismo:
Augusto Comte (1789 –1857), criou o método positivista, que consiste na pura observação dos fenômenos através da experiência sensível, pois ele se opunha ao racionalismo e ao idealismo. Comte pregava que a observação sensorial era a única capaz de produzir a verdadeira ciência, que seria baseada em elementos positivos (reais). Qualquer outro método diferente deste era classificado como falso, por se justificar em idéias teológicas ou metafísicas, que – segundo Comte - preferem a imaginação à observação.
Comte também contribuiu para a classificação e conceituação das principais “ciências” de seu tempo, como a “Sociologia”, a “História”, a “Física”, dentre várias outras, dentro de seus agrupamentos.
O Positivismo de Augusto Comte afirma que o conhecimento “científico” é a única forma de conhecimento verdadeiro. Ele defendia a superação da religião ao criar sua teoria da evolução da humanidade nas seguintes etapas: animismo, politeísmo, monoteísmo e por fim “humanismo”. Para ele, com a chegada do conhecimento científico, o humanismo tomaria o lugar da fé. Baseado neste pensamento, em seus últimos anos de vida ele dedicou-se a criação de uma nova seita, a “Religião da Humanidade”, que chegou a ter templos espalhados por muitas e importantes cidades do mundo. Lá praticava-se ritos que levavam os participantes a refletir, lembrar e  homenagear os grandes pensadores da humanidade.

Marx e o Materialismo Histórico:
Podemos tentar compreender a idéias do alemão Karl Marx (1818 – 1883) a partir se sua célebre frase: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras, enquanto que o objetivo é mudá-lo". Ele atuou como economista, filósofo, sociólogo, teórico político e até como jornalista. Foi um revolucionário, seja por seu pensamento ou pela praticidade de suas idéias.
Marx aplicou sua interpretação histórica e economicista (materialista) sobre o conceito hegeliano de “dialética”. Marx reescreveu a história da humanidade, percebendo em cada uma de suas etapas a existência de um certo modo de produção no qual havia uma contradição de classes, uma luta de classes, o explorador contra o explorado. Era o “Materialismo Histórico”.
 Desde a antiguidade a historia humana era assim, e neste momento funesto em que vivia tratava-se da exploração do trabalhador – proletário – pela burguesia, classe que na última etapa era explorada pela nobreza, mas que tomou o poder e passou a explorar os trabalhadores. Ele elaborou uma série de idéias para provar quão injusta e irracional era tal subordinação, pois seriam os trabalhadores que produziam a riqueza, e ao mesmo tempo eram em maior número, enquanto a burguesia apenas lhes roubava a parte da riqueza gerada que lhes pertencia – mais valia – apesar desta ser em minoria. Tornava-se, nas idéias de Marx, imperativa a necessidade de uma rebelião dos trabalhadores, derrubando o regime da burguesia e suas instituições, tomando posse dos meios de produção – máquinas – e construindo uma ditadura do proletariado. Contendo um resumo, em linguagem popular, destas idéias, Marx lança em parceria com Friederich Engels “O Manifesto do Partido Comunista”
Seguindo a linha materialista de Feuerbach, as idéias de Marx vinham seguidas de uma forte tentativa de desmonte ou negação à qualquer tipo de afirmação religiosa. O fundador das idéias comunistas, ao afirmar suas convicções materialistas no contexto da vida social, chegou a afirmar que a “Religião é o ópio do povo”. Lançando, assim, em suas conclusões, as visões religiosas – teológicas - no campo das mentiras que servem apenas para manter a população anestesiada de seus problemas. Para ele, na sociedade comunista o povo teria acesso à cultura e não mais seria explorado, não necessitando mais da fé.

Darwin e a Teoria da Evolução
Charles Darwin (1809 – 1882), ao lado de Marx e Freud, constitui-se um dos mais importantes filósofos do período contemporâneo, responsável por alicerçar a visão materialista no âmbito da vida natural, da biologia. Ele foi um naturalista, nascido na Inglaterra e que alcançou fama ao expor para a comunidade científica sua teoria a respeito evolução das espécies e propor uma explicação de como ela se daria: por meio da seleção natural e sexual.  Em seu livro "A Origem das Espécies" ele apresentou sua idéia de que houve evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural. Esta forma de ver o surgimento da vida claramente se opõe à interpretação religiosa, e no seu tempo isto gerou muita, muita polêmica, não que ela tenha terminado.
Outra conseqüência desta teoria é tirar da humanidade o ar de “especialidade”, de soberania que há em relação, em superioridade, aos outros seres. A teoria da evolução coloca o homem no mesmo patamar de qualquer outro bicho, explicando inclusive seu comportamento através da idéias de luta pela sobrevivência e perpetuação da espécie.



Freud e a Psicanálise
Sigmund Freud (1856 – 1939) foi um medido neurologista nascido na Áustria. As grandes constatações realizadas por Freud, iniciaram-se em seus estudos por meio da utilização da hipnose, em pacientes com “histeria”. Quando ele percebeu melhora ocorrida nos pacientes, passou a elaborar a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica. Esta teoria deu aporte ao seu conceito de “inconsciente”, que provavelmente possa ser sua maior contribuição ao pensamento Contemporâneo. Ele deu ao “inconsciente” uma aparência de algo científico, ao propõem que a mente é dividida em camadas, dominada em certa medida por vontades primitivas (instintos) que estão escondidas por detrás da consciência e que se manifestam nos lapsos e nos sonhos. É isto que ele formaliza na sua obra “A Interpretação dos Sonhos”. Ele também conceitua a existência de um pré-consciente, que descreve como a camada entre o consciente e o inconsciente.
Tratando-se da prática médica, Freud cria a utilização clínica da psicanálise como forma de tratamento, através da conversa entre o paciente e o psicólogo.

Nietzsche e o ateísmo
Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) é um filósofo alemão que passou sua vida beirando entre e lucidez e a loucura, morrendo, porém na loucura. Quando jovem estudou filosofia e teologia. Suas obras demonstram um radical ápice das idéias materialistas na Alemanha do final do século XIX.
Fazendo um breve resumo da idéias de Nietzsche, Jostein Gaarden escreveu:
“Nietzsche também reagiu à filosofia de Hegel e ao “historicismo” alemão que dela resultou. Ele atribuía a Hegel e aos seus sucessores um interesse anêmico pela história e confrontava este interesse com a própria vida. É muito conhecida a sua reivindicação por uma “revalorização dos valores”, sobretudo a moral cristã, que ele chamava de “moral escrava”, para que o curso da vida dos mais fortes não fosse mais obstruído pelos mais fracos. Para Nietzsche, o cristianismo e a tradição filosófica tinham se afastado do mundo e se voltado para o “céu” ou para o “mundo da idéias”. Esses dois últimos teriam se transformado no “verdadeiro mundo” e, na verdade, não passavam de aparência. “Sede fieis à Terra”, ele dizia, e “não acreditais naqueles que vos falam de esperanças além deste mundo!”[2]

Algumas de suas frases que demonstram seu tom ateísta foram: "O Evangelho morreu na cruz."; “A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada."; "Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade."; "Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária."; "O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo."; "A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade."

Sartre e o Existencialismo
O termo “existencialismo” é na verdade um grande tema que tem sido utilizado por muitos filósofos de forma diferente, mas é em Sartre que teremos a definição mais clara e objetiva deste pensamento.
Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) é um filósofo francês que começa a escrever suas principais obras após a segunda grande guerra, nos anos de 1940. Ao afirmar que “o existencialismo é humanismo”, ele queria deixar claro que sua filosofia partia única e exclusivamente do ser humano, não buscando respostas fora dele, isso porque Sartre era ateu, por isso será possível perceber um tom sombrio e um pouco desesperançado em suas obras, em vistas do que a humanidade estava vivendo e fazendo em sua época.
O existencialismo de Sartre parte do pressuposto de que apenas o homem existe para si, ou seja, apenas a humanidade tem noção e percebe sua própria existência, mas ao contrário de outros filósofos, para ele esta existência não provem de uma “natureza” própria, uma linha que nos levaria a certas atitudes ou a certas preferências. Para ele nós simplesmente existimos e não há em nós um saber preexistente ou um ser superior para nos guiar, temos que fazer isto sozinho. Daí surge sua frase de impacto: “O homem está condenado à liberdade”. Ele coloca a liberdade como um fardo que devemos carregar, pois tudo que façamos de bom ou ruim dependeria apenas de nós próprios, não podendo o homem culpar os deuses, a sua natureza ou “o velho Adão” por suas atitudes. Par a ele existir significa criar sua própria vida.

Por

Dionísio Felipe Hatzenberger
Professor de História, Filosofia e Ensino Religioso



[1] GAARDEN, Justein. O Mundo de Sofia – Romance da história da filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 386
[2] GAARDEN, Justein. O Mundo de Sofia – Romance da história da filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 484


FILOSOFIA MODERNA

 Um pouco diferente da filosofia antiga e medieval, na qual os temas abordados pelos filósofos geralmente estavam bastante ligados às questões históricas, políticas e culturais de seu tempo, na Idade Moderna a filosofia vai trabalhar em diferentes temáticas. Algumas sim, muito ligadas ao seu período histórico, outras, porém, bastante inovadoras.
A filosofia moderna irá abordar muito em seus temas as questões psicológicas.

O Mundo Moderno

O período que chamamos de “Idade Moderna” vai de meados do século XV até a segunda metade do século XVIII. Tem seu início no momento em que cai a cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino – quando esta é invadida pelos árabes – e tem seu término quando os reinos europeus irão começar a submergir diante das idéias republicanas, na Revolução Francesa.
Desta forma, após aproximadamente mil anos de ruptura entre o ocidente, que passou pelas invasões bárbaras, e o oriente romano, que manteve de certa maneira a cultura clássica, agora estes irão novamente unir-se, pois com a invasão árabe a elite cultural bizantina – muito mais esclarecida – foge para a Europa, onde fará parte das universidades e trará um novo tempo cultural para a Europa.
Além disto, nos primeiros anos deste novo período ocorreram uma série de coisas que vieram a gerar mudanças de grande porte. Geoffrey Blainey em sua célebre obra “uma breve história do mundo” trata destas mudanças:
“Nessa região, surgiu uma nova forma de pintar e esculpir e uma nova perspectiva em arquitetura que, vista como um todo foi chamada de Renascimento. Um despertar religioso, a Reforma, tomou conta de todo o norte da Europa. A técnica de impressão, uma forma maravilhosa de disseminar novos e antigos conhecimentos, saltava de cidade em cidade. Sucessivamente e em pequenos intervalos de tempo, um mundo inteiramente novo emergiu com a descoberta do continente americano e de uma rota totalmente marítima da Europa ao leste da Ásia. (...) Tais acontecimentos refletiram-se em novas formas de ver o mundo. Muitos artistas e arquitetos viram com novos olhos a realidade ao seu redor, fosse o corpo humano ou a perspectiva; muitos teólogos e pregadores acreditavam ter redescoberto a natureza humana; os astrônomos e navegadores viram o mapa do mundo com estupefação. Tudo refletia um desejo de banhar os olhos cansados em sal e enxergar tudo de uma nova forma.”[1]

Foram descobertas, sem dúvida, revolucionárias. Mas no campo das idéias, várias delas remontavam a pensamentos anteriores, como é o caso do “renascimento” artístico e cultural, que buscava na antigas cultura greco-romana sua inspiração. Também o protestantismo buscava uma igreja que retomasse a origem cristã dos primeiros séculos.
Este período é, portanto, um período riquíssimo para questionamentos e quebra de paradigmas. O mundo crescera e já não era mais do mesmo tamanho, a descoberta das Américas e as novas rotas comerciais traziam outras culturas para dentro da Europa. A fé já não era uníssona. Novas formas de crer fortaleciam-se e desafiavam o poderio da centralizada igreja romana. O saber e as informações distribuíram-se por intermédio das imprensas.

Principais Filósofos Modernos


Descartes (1596 - 1650):
Dedicou sua vida a uma busca pela “verdade” legitima. Não aceitava qualquer tipo de verdade preestabelecida, que segundo ele poderia nos levar a algum engano, assim, desconfiava até das conclusões tiradas dos sentidos, das sensações. Queria, portanto, estabelecer conhecimentos realmente “seguros”. Descartes foi um dos grandes filósofos racionalistas.
Ao contrários de outros filósofos contemporâneos chamados de “céticos”, que diziam que deveríamos nos conformar com a idéia de não saber nada, Descartes acreditava na necessidade de elaborar um método para testar, provar, conferir a veracidade dos saberes.
No mesmo sentido em que Galileu tentava tornar mensuráveis todas as coisas, Descartes propunha que se “pesasse” e “medisse” as idéias. Isto significa aplicar o “método matemático” aos conceitos e saberes filosóficos.
Seguindo nesta linha sua primeira constatação foi quanto à existência humana, da qual não poderíamos ter uma certeza inata, mas há lago que pode-se ter certeza: se a pessoa está analisando tal questão ela pensa, e assim, se pensa, existe. Surge a conhecidíssima frase: “Cogito, ergo sum” – penso, logo existo.
Neste mesmo raciocínio, ao analisar a questão da “perfeição”, da qual temos em nossa mente idéia, mas a qual, porém, não poderia ter origem em nós próprios, pois na verdade nem somos e nem conhecemos algo perfeito. A noção de um ser “perfeito” não poderia “brotar” de um ser imperfeito. Esta era, para Descartes, a maior prova da existência de Deus, o ser Perfeito. Nas palavras de Jostein Gaardem:
“A idéia de Deus é, segundo Descartes, uma idéia inata, que nos é “plantada”, por assim dizer, no momento em que nascemos, “como a marca que o artista coloca em sua obra”.”[2]

A partir destas duas primeiras constatações, da existência humana e da existência de um ser perfeito, ele traz a afirmação de que tudo o que percebemos com nossos sentidos realmente existe, não tratando-se apenas de uma imagem onírica (ilusão), e para chegar nesta constatação, Descartes baseia-se na Idéia do Ser Perfeito – Deus – que não iria nos pregar peças, criando um mundo de ilusões. Esta realidade exterior Descartes irá chamar de “extensão”, trata-se do mundo da matéria, que para ele é fundamentalmente diferente do mundo das idéias, o mundo da Alma, que ele chamará de “pensamento”. Deus criou o pensamento e a extensão, mas é independente deles. Assim, Descartes irá estabelecer relações entre o comportamento humano e a ligação que há entre corpo (matéria) e alma (pensamento), que se influenciam mutuamente. Para ele, porém a alma deveria prevalecer sobre os desejos em intenções do corpo, que em seus sentimentos e vontades age movido pelos sentimentos e não pela Razão. Por isso Descartes é chamado de Dualista.

John Locke (1632 - 1704):

Descartes, assim como outros racionalistas (desde Sócrates), acreditavam em idéias inatas, ou sejas, aquelas às quais o ser humano já trazia em si, independente de aprendizado que tivesse, seriam coisas previamente estabelecidas e assim, parte da natureza inata do pensar humano. No século XVIII surge uma forte oposição à esta idéia. O grupo de filósofos, que iremos chamar de “empiristas”, acreditam que a mente humana é como uma folha de papel em branco, na qual apenas começam a ser formados conceitos e idéias, impressões, a partir do conato sensorial com o mundo à nossa volta. O maior porta-vóz destas idéias, e assim grande crítico de Descartes, foi John Locke.
Com a negação das idéias inatas, e por conseqüência, do dualismo proposto por Descartes, entre pensamento (alma) e extensão (matéria), Locke torna-se o primeiro filósofo moderno a romper com o pensamento metafísico. Locke é considerado o pai do “Behaviorismo”.
Locke irá basear sua argumentação contra a teoria das idéias inatas também em um argumento ético. Ele afirma que em muitos lugares do mundo podem-se manter certos tipos de culturas, leis e pensamentos preconceituosos com base em pensamentos dogmáticos que se baseiam em idéias afirmadas como inatas, e assim naturais e imutáveis. Com esta defesa Locke afirma que seria possível construir um mundo de Tolerância em todas as instâncias. A partir desta filosofia ele passou a contribuir para o pensamento da democracia liberal.



David Hume (1711 – 1776):
Hume é considerado um dos principais filósofos do Iluminismo e o mais radical dos filósofos empiristas, por seu total ceticismo. Ele opôs-se ferozmente à todo tipo de pensamento que não tivesse origem ou correspondência na realidade material perceptível pela observação, sendo assim grande inimigo do pensamento de Descartes e de todos os filósofos que expressassem idéias metafísicas ou teológicas.
Ele acreditava que o contato de nossos sentidos com o mundo a nossa volta gerava “impressões”, que ficavam gravadas em nossa mente, tais impressões, após algum tempo ficavam gravadas na nossa lembrança e iriam ser base para nossas “idéias”. O problema para ele estava em idéias algumas complexas, que segundo seu ver teriam origem na mistura de elementos de várias e diferentes “impressões”, sem corresponder, necessariamente a uma realidade confiável. Segundo Hume, apenas é confiável o saber que tem correlação direta com a  realidade que pode ser constatada no nosso cotidiano.
Baseado nisso Hume chegou a afirmar: “se tomarmos um livro sobre a doutrina divina, ou sobre metafísica, devemos perguntar o seguinte: ele contém algum raciocínio abstrato sobre tamanho e números? Não. Contem algum raciocínio sobre fatos e sobre a vida que seja baseado com experiências? Não. Atira-o, então, ao fogo, pois tudo o que ele contém não passa de fantasmagoria e ilusão”.
Permanece, porém, no empirismo de Hume, a subjetividade dos filósofos de sua época, tanto que tal pensamento é chamado “atomismo psicológico”, pois trata das coisas do mundo real a partir de sua impressão em nossa mente, pelo contato sensorial racional.

Immanuel Kant (1724 - 1804):
Kant é o pai do relativismo. Em um mundo no qual o racionalismo cartesiano (de Descartes) e o empirismo de Locke e Hume se contrapunham em gênero, número e grau, Kant encontrou um caminho comum a ambos e conseguiu aproxima-los através de seu relativismo.
O problema de ambas as linhas filosóficas de seu tempo era: como podemos compreender a realidade? Os racionalistas propunham um mundo formado por idéias inatas e pelo pensamento em contato com o mundo material. Já para os empiristas tudo não passava de impressões que se faziam em nossa mente, que gravava estas e agia baseado nelas, na experiência, no contato com o mundo sensorial.
Para Kant na verdade ambas estavam um pouco corretas, faltava-lhes, porém, perceber que o homem percebia o mundo à sua volta com conceitos prévios que lhe eram preestabelecidos por uma situação inata: o tempo e o espaço. Toda a experiência humana ocorre e desenvolve-se no tempo e no espaço.
A mente humana não seria, portanto, uma lousa em brando que recebe impressões do mundo sensorial, e estaria mais para um vaso, uma vasilha, de diferentes formatos que recebe sim um conteúdo, mas que molda este conteúdo à sua personalidade, á sua condição que é preestabelecida pelo tempo e pelo espaço.
Assim, para Kant, todos os temas de que os filósofos tomam como temas e suas conclusões, mesmo que estas sejam consideradas leis imutáveis e empíricas, são estas leis produções da nossa razão. Tudo em nossa vida, todas as nossas conclusões passam pela nossa razão, mesmo que esta diga-se materialista, há por de traz de tal concepção uma serie de racionalismos e de influências da condição apriorista de nossa personalidade, de nossa temporalidade, de nossa posição no espaço, e assim por diante. Assim Kant contribuiu muito para a formação de uma filosofia bastante relativista.
Outra forte contribuição de Kant foi na área da natureza humana, ao posicionar-se como um racionalista ao afirmar a existência de uma “lei moral”, preexistente à experiência, que dá base ao comportamento humano. Para Kant é possível analisar-se no mundo todo, nas mais diferentes sociedade, a existência de um código de conduta moral que ultrapassa as barreiras culturais e que é inerente ao ser humano, que estaria incutido previamente em nossas mentes, na alma humana.

Por

Dionísio Felipe Hatzenberger
Professor de História, Filosofia e Ensino Religioso



[1] BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo, São Paulo: Fundamentos, 2010.
[2] GAARDEN, Jostein. O mundo de Sofia, São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Filosofia Antiga e Medieval

 O termo “filósofo” significa “amigo do saber” ou “amante do saber”, aquele que busca a sabedoria, o conhecimento do mundo, da natureza ou da condição humana. A filosofia mudou de tempos em tempos, devido ao contexto histórico dos filósofos.
A filosofia é a tentativa de proporcionar um sentido pessoal ou social para a vida, que possa opor-se a certas idéias previamente estabelecidas. Portanto a filosofia não é uniforme, mas cheia de tendências distintas.
Apesar do homem já se debruçar sobre tais questões desde o tempo das cavernas, foram os gregos que criaram o método daquilo que chamamos de filosofia, quando estabeleceram um conjunto de respostas para suas questões pessoais e sociais, apesar desta filosofia ser bastante mitológica.
O auge da filosofia antiga está no período socrático (século IV a.C.), com Sócrates, Platão e Aristóteles. Mas é na mitologia e poesia mesopotâmica que podemos encontrar os primeiros traços filosóficos, já anteriores a 2000 a.C. Claro que para estes povos, assim como para os egípcios e persas, a filosofia era extremamente atrelada à religião e sem uma regra própria ou status próprio. Os hebreus, que assim como outros povos da antiguidade tiveram sua origem no crescente fértil, também possuem em seus textos sagrados, principalmente na Torá (atual Antigo Testamento das Bíblias cristãs) além de outras obras, muitas discussões filosóficas, principalmente sobre a origem do mundo, do mal, sobre a recompensa dos atos, etc.
Já os gregos tiveram sua mitologia transcrita em muitas obras, mas principalmente nas obras de Homero, na qual se estabeleciam temas morais e religiosos, sem porém pretender-se tornar um texto sagrado-dogmático. Isto facilitou a reinterpretação e a discussão sobre tais conceitos por parte da emergente filosofia, sem que esta sofresse sérias restrições por parte de religiosos.
Dos pensadores pré-socráticos não temos muitos documentos que sobreviveram ao tempo. Apenas citações em obras de socráticos ou minúsculos fragmentos. Estes se preocupavam com a organização dos astros e do mundo, se perguntavam sobre a composição das coisas, sobre como o mundo se transformava, e já nesta fase buscavam hipóteses em respostas nem sempre teológicas.

Filosofia pré-socrática
Vários foram os pré-socráticos, os estudiosos os separamos em escolas:
Escola Jônica:
Tales de Mileto: Para este solteirão a água era o elemento principal de todas as coisas, e assim sua origem. Ele também, entre outras concepções, percebia em “Deus”a inteligência que regia todo o universo, para ele Deus é o “começo e o fim”.
Anaxímandro de Mileto: Escreveu três livros sobre a natureza. Criou a idéias de um elemento indeterminado, que daria forma a tudo. Ele também produziu uma certa idéias de evolução entre as espécies.
Anaxímenes de Mileto: Para ele o ar era o elemento principal. Tudo vinha do ar e no ar tudo se resolvia.

Escola Jônica Nova:
Heráclito de Éfeso: para ele o fogo era o elemento de principal constituição de toda a natureza. Para ele “tudo flui e nada permanece”. Também afirmava que os homens e os deuses têm a mesma natureza, pois seriam sujeitos às mesmas regras cósmicas, que chamava de Lógus.
Empédocles de Agrigento: Elegeu a água, o ar, o fogo e a terra como as “raízes” da natureza, às quais eram disputadas por duas forças opostas, o amor e o ódio. Tentou também atribuir lógica à idéia evolucionista ao aplicar certo pensamento de seleção do mais apto.
Anaxágoras de Clazomena: Para ele todos os corpos são compostos por partículas homogêneas que são ordenadas por uma partícula inteligente: o “nous”. Os astros são rochas incandescentes e não deuses.

Escola Pitagórica:
Eram influenciados pelas religiões orientais.
Pitágoras: junto de seus seguidores, principalmente de Filolaos, estabeleceram idéias sobre o movimento da Terra sobre o próprio eixo, sobre os números, sobre a vivência diária em comunidade, dentre outras coisas. Matemática, astronomia e as ciências de forma geral faziam parte da filosofia pitagórica. Para eles o mestre tinha um papel preponderante, como se fosse alguém “inspirado”. A matéria é má e o espírito é bom. O espírito se aperfeiçoa no contato com a matéria, que geraria sofrimento, castigo. Trazem certa idéia de reencarnação.

Escola Eleática:
Xenófones: Para ele a natureza é ordenada pelo “Ser”, que para ele é Uno, Eterno, Imutável, Infinito, é Deus. Este Ser, porém não se parecia com os homens, ao contrário das idéias mitológicas, ele era na verdade “tudo”.
Parmênides de Eléia: para ele o ser é objeto da inteligência, tal qual o sentir é objeto do sentido. O “ser” se opõe ao “nada”.  Tudo teria origem no quente e no frio, que seriam fogo e terra.
Zenão de Eléia: Era um sofista, para ele o “ser” era imutável. Assim como Parmênides, ele defendia o ser como objeto específico da inteligência.

Escola Atomista:
Leocipo é o fundador, criou um profundo sistema de idéias.
Demócrito: sua obra principal foi “Mega diacósmus”. Não são forças opostas que geram as coisas. Apenas existem os átomos, partículas imutáveis e indivisíveis, que movem-se no vazio formando todas as coisas. Existe apenas átomos e vazio. Este, porém, não é um materialismo propriamente mecanicista, pois não parte de uma explicação científica, e sim de uma especulação filosófica.

Escola Sofista:
Eram chamados de “Filósofos céticos” e Sócrates os criticava por receberem salários. Deram proeminência a temas como:
- Conhecimento;
- Lógica;
- Linguagem;
- Moral;
- Política;
Tiraram, assim o foco das especulações acerca da natureza.
Protágoras: é um dos protagonistas da lógica. Para ele não existiam leis naturais para a vida e para a sociedade. São conveniências e poderes dos mais fortes que prevalecem.
Gorgias: Era relativista e sensista. Acreditava na mutabilidade de tudo. Para ele “o ser não existe”.
Antifon de Atenas: Para ele as leis humanas podem ser transgredidas, mas as leis naturais não.
Pródicos de Ceos: Falava de “virtude”, como pré-requisito para os bens da vida. Desmistificava os deuses.

Período Socrático:
Sócrates: Era um homem simples de Atenas, foi soldado e político. Por fim foi condenado à morte por suas posturas contra idéias tradicionais. Nada escreveu, tudo que sabemos foi-nos passado por Xenofonte, Platão e Aristóteles. Para ele:
- a inteligência era específica e não sensorial;
- a alma era substancial, espiritual, preexistente e eterna;
- Deus existia, mas não era como os homens, divergindo da mitologia;
- O foco estava nas questões morais e não na natureza. Antes de mais nada o homem precisava conhecer-se;
- Haviam idéias inatas que poderiam ser redescobertas através da maiêutica, método para ensinar através de perguntas;
- Ética é a arte de agir para o bem.
Platão (discípulo de Sócrates):
Ele era Intelectualista, racionalista radical, politicamente absolutista. Acreditava na dualidade alma-espírito e nas idéias inatas, que teriam origem em vidas passadas. Defendia o universalismo arquétipo e via a ciência como a redescoberta das idéias inatas por meio dos sentidos. Acreditava também na existência de um Deus infinito.
Desenvolvei também uma trilogia a acerca da realidade. Acreditava que existia o campo das Idéias Arquétipas, o Demiurgo (Deus, o artista) e a matéria eterna. O artista divino projeta as coisas no campo das idéias arquétipas e as materializa na matéria eterna. Deus é quem põe para funcionar o motor do universo, gerando as primeiras ações que geraram todas as outras em cadeia.
Politicamente Platão aceitava a desigualdade conforme a capacidade a não conforme o nascimento.
Aristóteles (discípulo de Sócrates):
É o responsável pela formalização do pensamento lógico. Dividiu as operações mentais em três: Idéia, Juízo e Raciocínio. Desenvolveu também a teoria da potência: “das coisas não existentes, algumas existem em potência, por não existirem em atos.”
Politicamente tolerava a escravidão, argumentando que alguns indivíduos seriam destinados naturalmente para isto, devido a sua incapacidade para atividades intelectuais.

Filosofia Helênico Romana:
Trata-se do período pós-socrático da filosofia da Idade Antiga. Foram muitas as mudanças que ocorreram com o crescimento do Império Romano. Este dominou praticamente todo o mundo da época, gerando um caldeirão de culturas e idéias. A cultura grega, porém, teve espaço especial no mundo romano que surgia.
Desde o final de período da filosofia socrática (IV a.C.) até cerca de II d.C. desenvolveram-se de forma mais ou menos linear algumas escolas bastante inspiradas nas escolas pré-socráticas e socráticas. Epicurismo e estoicismo, ao lado do crescimento do cristianismo parecem as grandes novidades deste período. Haviam também os Cínicos, que seriam os anarquistas da antiguidade, pois eram contra qualquer forma de distinção pó sexo, raça, classe e ainda desacreditavam das instituições.
Os epicureus eram chamados de “filósofos do jardim”, pois reuniam-se em um jardim que no portal de entrada tinha a seguinte inscrição: “forasteiro, aqui te sentirás bem, aqui o bem supremo é o prazer.” Esse era o foco do ensinamento dos epicureus: é possível afastar o sofrimento e o medo: aproveitar a vida, vivendo sem sofrer. Epícuro Também ensinava a “viver em reclusão”, ou seja, em meio a correria da sociedade dizia que as pessoas deveriam afastar-se de tudo e aproveitar a vida.
Outro enfoque de seus ensinamentos era a idéia de não preocupar-se com os deuses, ou com os possíveis castigos dos mesmo, pois para ele a vida terminava por aqui mesmo, não estendendo-se ao pós-morte. Isso, ele justificava pela teoria do átomo, desenvolvida por Demócrito, pela qual o menor elemento fundamental de todas as coisas é o átomo, que constituiria tudo. Segundo Epícuro, quando morremos o que ocorre na verdade é o desmonte de nossos átomos que espalham-se para dar origem a outras coisas. Inclusive, para ele, os átomos da alma também se espalham.
Já os estóicos, acreditavam que cada pessoas era um mundo em miniatura, um mini-cosmos. Todos fazem parte de um todo harmônico (Kosmos), que se completa. Para eles o universo é um deus, que se ordena sozinho, e o homem, também divino, faz parte desse todo.
Não há espírito, alma, matéria, tudo é uma coisa só, na concepção estóica. Para eles é preciso viver liberto do luxo, em harmonia com o universo, para poder se suportar em paz os sofrimentos, que seriam inevitáveis à vivência. Os estóicos buscavam da relação com o outro e com o todo, através de suas ações e sua ética, alcançar uma vida boa.
Estas duas linha filosóficas já eram bastante conhecidas em todo território de domínio romano quando do surgimento do cristianismo. Talvez um dos primeiros encontros entre filósofos destas duas linhas e pregadores cristãos seja o que está relatado no Livro de Atos, na Bíblia, quando o apóstolo Paulo vai a Atenas e começa a ensinar em uma praça, sendo contrariado dos defensores destas duas linhas que ali debatiam entre si há tempos.

Filosofia Cristã – Patricismo e Escolástica:
O cristianismo surge com o cumprimento do ministério de Jesus Cristo. A partir de sua afirmada ressurreição seus discípulos espalham-se por todo o mundo de sua época, inicialmente entre os judeus que já viviam espalhados por vasto território e posteriormente ensinando entre os outros povos, os “gentios”. O cristianismo propõe ser a continuação da religião dos Judeus, no momento em que seu Deus cumpre sua promessa de enviar o Salvador e assim reconcilia a humanidade consigo. Assim os cristãos, com a esperança da vida eterna, são convocados a espalhar esta boa notícia (evangelho).
O cristianismo por seu apelo popular – diante de Deus todos seriam iguais, sem distinção de raça, classe, sexo - cresceu rapidamente e trouxe medo ao imperador, principalmente por não aceitarem participar do culto à sua imagem e a dizer para Deus “Venho o vosso reino”, afirmando que Cristo voltará para reinar sobre a Terra. Este grupo que não era patriota e ainda falava de um rei que viria tornou-se vítima da perseguição romana que iniciou-se em 64 com Nero e persistiu até 313, quando Constantino finalmente permite e legaliza esta religião que a esta altura já era uma das maiores de seu império.

Filosofia Patrística:
São vários os escritores da filosofia Patrística – referência aos padres, destacando-se Agostinho de Hipona.
Em 150 Justino (Mártir) escreve sua obra “Apologia” que foi endereçada ao imperador Antonino Pio (a palavra grega apologia refere-se à lógica na qual as crenças de uma pessoa são baseadas). Enquanto Justino explicava e defendia sua fé, ele discutia com as autoridades romanas por que considerava errado perseguir os cristãos. De acordo com seu pensamento, as autoridades deveriam unir forças com os cristãos na exposição da falsidade dos sistemas pagãos”. Ele foi decapitado em Roma em 165. Pouco antes de morrer afirmou: “Vocês podem nos matar, mas não podem nos causar dano verdadeiro.”
O jovem Orígenes, nascido em uma família cristã e com profundos estudos clássicos era um dos homens mais sábios do século III. Foi posteriormente chamado de Orígenes, o Castro, por ter castrado-se aos 18 anos na busca por fugir das tentações. Aos 18 anos de idade já ensinava nas escolas cristãs da época;
Mas afastou-se das idéias cristãs tradicionais ao aprofundar-se no uso das idéias da filosofia Grega, á qual recorria com usualidade.
Origenes adotou muitas idéias platônicas, inclusive a pressuposição grega de que a matéria e o mundo material são intrinsecamente maus. Acreditava na existência da alma antes do nascimento e ensinava que a posição de alguém no mundo era conseqüência de sua conduta num estado preexistente. Negava a ressurreição física e advogava que, no final de tudo, Deus salvaria todos os homens e todos os anjos.
Foi excomungado pelo Bispo de Alexandria, que chamou um concílio a fim de discutir as idéias que ele vinha pregando.
Agostinho nasceu em 354. Na juventude já era um intelectual.
Passou pelo maniqueísmo e pelo neoplatonismo, em busca pela verdade. Inicialmente considerava a fé cristã uma coisa para pessoas simples. Em 387 converteu-se ao cristianismo. Para ele os Sacramentos eram sinais visíveis de uma graça invisível, assim, Deus não olharia para o sacerdote ao operar através dele. Opôs-se a Pelágio, que afirmava a necessidade de obras para a Salvação, á qual seria conquistada através da graça, o favor não merecido que Deus concedia aos homens. Escreveu centenas de livros, cartas, comentários;
Influenciou tanto o catolicismo quanto o posterior protestantismo com sua defesa da supremacia da graça ante as obras. É acusado de ser fatalista, por crer, em oposição à Pelágio, que Deus tudo tem predestinado e que é Ele que nos leva a tudo. Esta última idéia teria inspirado teologias bem rígidas de predestinação, como a calvinista.

Filosofia Escolástica:
A filosofia escolástica desenrolou-se no decorrer de vário séculos até o fim do período medieval e passou por várias fases. Numa fase inicial hoveram três nomes que se destacaram: Pedro Abelardo, Pedro Lombardo e Tomás de Aquino. Sendo Aquino o mais importante destes.
Durante sua vida Aquino dedicou-se muito ao estudo e a escrever, totalizando entre 89 e 98 obras completas. Sua obra mais importante é “Summa Theologica”, que trata-se de um tratado sistemático da doutrina cristã em termos filosóficos. Quanto aos legados de Aquino, cito Norman L. Geisler (in: Elwell)[1]:
“As opinões de Aquino abrangem a maioria das categorias filosóficas e teológicas.
A fé e a Razão: Como Agostinho, Aquino acreditava que a fé era baseada na revelação de Deus nas Escrituras. O apoio para a fé acha-se nos milagres e nos argumentos prováveis. Embora a existência de Deus possa ser comprovada pela razão, o pecado obscurece a capacidade de 0 homem saber, de modo que a fe (e nao as provas) de que Deus existe e necessária para a maioria das pessoas. A razão, porem, nunca e a base da fé em Deus. Exigir razões para a fé em Deus realmente diminui o mérito da nossa fé. (...) porem, não devem deixar de raciocinar a respeito da sua fé e a favor dela. Ha cinco maneiras de demonstrar a existência de Deus pela razão.(...) Ha, no entanto, mistérios (a Trindade, a encarnação) que não podem ser conhecidos pela razão humana, mas somente pela fé.
Epistemologia. Aquino sustentava que todo o conhecimento começa na experiência. Temos, porem, uma capacidade para o conhecimento que é inata e apriorística. (...)
Metafísica. Assim como Aristóteles, Aquino acreditava que a função do sábio era conhecer a ordem. A ordem que a razão produz nos seus próprios atos e a lógica. Aquela que ela produz mediante os atos da vontade e a ética. A ordem que a razão produz nas coisas externas e a arte. Mas a ordem que a razão contempla (mas não produz) é a natureza. Mas a natureza estudada no âmbito do ser e a metafísica.
O centro da metafísica de Aquino é a distinção real entre a essência e a existência em todos os seres finitos. Aristóteles tinha distinguido entre a realidade e a potencialidade, mas aplicava essa distinção somente a forma e a matéria, e não a ordem da existência. Aquino argumentou que somente Deus é ser puro, realidade pura, sem nenhuma potencialidade.
Deus. Somente Deus é existência (a qualidade de "Eu sou"). Todo 0 mais têm existência. A essência de Deus é idêntica a Sua existência, existir é da essência dEle.
Deus e um ser necessário. Ele não pode não existir. Nem é possível que Deus Se altere, visto que Ele não tem potencialidade para ser outra coisa senão aquilo que é. Semelhantemente, Deus é eterno, visto que o tempo subentende uma mudança de antes para depois. Mas sendo o EU-SOU, Deus não tem "antes" ou "depois". Deus também é simples (indivislvel), visto que não tem potencial para a divisão.”
Vejamos um pequena mostra da apologética filosófico-cristã de Aquino. Trago abaixo um resumo dos 5 argumentos racionais que ele usou para provar a existência de Deus:
1)                      Sobre o Movimento: O movimento não ocorre por si só, é necessário que algo o motive. Se formos olhar toda a cadeia de acontecimentos, deve ter havido um movimento inicial, pois a cadeia deve ter um início. As coisas inanimadas não podem em si mesmas ter início algum, Assim: A grande causa motriz, imóvel, é Deus.
2)                      Sobre a Causalidade: Alguns acontecimentos são caudados por outros anteriores. Estes anteriores, por sua vez, por outros ainda mais anteriores. E assim até o início da Cadeia. Esta cadeia deve ter um início, não pode ser infinita. Assim: a primeira causa, não causada, é Deus.
3)                      Sobre a Possibilidade: Algumas coisas são transitórias, pois possuem sua existência derivada de outras. Sua existência é possível, mas não necessária. Também numa cadeia, tudo deriva de algo, e isto não pode ser infinito em derivação. Assim: O ser imprescindível, auto-existente é o que chamamos de Deus.
4)                      Sobre a Perfeição: Podemos julgar algo como sendo mais ou menos perfeito. Não podemos achar aos nossos olhos algo completamente perfeito, mas algo nos que há um padrão de perfeição. Assim: O padrão absoluto é Deus.
5)                      Sobre o Projeto: Elementos inanimados cooperam entre si para um fim bem ajustado. Isso não pode ocorrer por acaso, mas exige um projetista inteligente: esse projetista é Deus.
Posterior a Aquino houveram muitos outros filósofos cristãos, principalmente na linha do nominalismo, onde podemos citar William Ockam, seu principal mentor, além de João Buridano, Guilherme de Heytesbury, Gregorio de Rimini, João de Mirecourt, Nicolau de Autrecourt, Nicolau de Oresme, Alberto de Saxonia, Gabriel Biel.

Por

Dionísio Felipe Hatzenberger
Professor de História, Filosofia e Ensino Religioso



[1] ELWELL, Walter A. (org). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: SREVN, 1993. (I, II e III Volume)